“Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua "indignação" é obviamente cínica e mentirosa”.
Ou seja, o caldo entornou de vez. Se no Editorial do dia 17, o “ditabranda” apareceu de passagem, só “uma lembrança”, em um texto que criticava o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, naquela Nota da Redação, não só o jornal reiterou sua criação, como destratou duas das figuras mais respeitadas da universidade brasileira. São eles cínicos e mentirosos em sua indignação, disse a Folha, extrapolando todos os limites da boa conduta jornalística descritos em seu Manual de Redação. Tão absurda quanta, foi a “exigência” do jornal: ficamos sabendo que passa a ser obrigatório condenar o regime cubano para ser autorizado a condenar o brasileiro daquela época. Vindo de quem apoiou abertamente o golpe de 64, dá para entender a “exigência”.
O jornal já recebeu a contestação de muita gente, entre elas, de pelo menos três jornalistas da própria Folha: do ombudsman Carlos Eduardo Lins e Silva, de Fernando de Barros e Silva e Juca Kfouri. Agora, ganha audiência na internet o abaixo-assinado aqui reproduzido. O leitor de CartaCapital pode deixar seu comentário neste espaço ou se manifestar através da petição online.
“REPUDIO E SOLIDARIEDADE
Ante a viva lembrança da dura e permanente violência desencadeada pelo regime militar de 1964, os abaixo-assinados manifestam seu mais firme e veemente repúdio a arbitraria e inverídica revisão histórica contida no editorial da Folha de S. Paulo do dia 17 de fevereiro de 2009. Ao denominar “ditabranda” o regime político vigente no Brasil de 1964 a 1985, a direção editorial do jornal insulta e avilta a memória dos muitos brasileiros e brasileiros que lutaram pela redemocratização dos pais. Perseguições, prisões iníquas, torturas, assassinatos, suicídios forjados e execuções sumárias foram crimes corriqueiramente praticados pela ditadura militar no período mais longo e sombrio da história política brasileira. O estelionato semântico manifesto pelo neologismo “ditabranda” e, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pos-1964.
Repudiamos, de forma igualmente firme e contundente, a Nota da Redação, publicada pelo jornal em 20 de fevereiro (p. 3) em resposta as cartas enviadas a Painel do Leitor pelos professores Maria Victoria de Mesquita Benevides e Fábio Konder Comparato. Sem razões ou argumentos, a Folha de S. Paulo perpetrou ataques ignominiosos, arbitrários e irresponsáveis a atuação desses dois combativos acadêmicos e intelectuais brasileiros. Assim, vimos manifestar-lhes nosso irrestrito apoio e solidariedade ante as insólitas críticas pessoais e políticas contidas na infamante nota da direção editorial do jornal.
Pela luta pertinaz e consequente em defesa dos direitos humanos, Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato merecem o reconhecimento e o respeito de todo o povo brasileiro.”
Celso Marcondes, CartaCapital.